Em Resplendor, cidadezinha mineira com 17,2 mil habitantes (Censo IBGE 2022), entre notas e moedas de reais, a partir deste mês, os moradores poderão carregar no bolso outro meio de pagamento físico: notas de Ubérrima.
No dicionário, a palavra “ubérrima” é sinônimo de abundante, de farto. Na cidade do interior de Minas Gerais, é dinheiro. A moeda
Para isso, contou com um investimento de R$ 80 mil para a impressão de 70 mil cédulas. O PIB per capita do município era de R$ 15.972,45 em 2021, o dado mais atualizado do IBGE.
As cédulas foram lançadas em cinco valores: 1, 2, 5, 10 e 20 ubérrimas. Cada ubérrima, ou Ub$, equivale a um real (R$).
Se o valor é o mesmo do real, por que, então, ter uma moeda local?
A resposta está gravada em cada cédula. As notas têm foto da cidade, do Rio Doce (que corta o município), e carrega também a descrição de sua serventia:
“Desenvolvida com objetivo de fortalecer a economia local, fruto de uma parceria entre a Prefeitura Municipal de Resplendor/MG e o Sebrae/MG. Esta cédula possui validade apenas no território do Município de Resplendor/MG.”
O programa, desenvolvido pelo Sebrae e implementado via Lei Municipal, foi apontado com o propósito de contribuir para o desenvolvimento econômico local dos municípios mineiros com baixo dinamismo econômico, com incapacidade de reter riqueza. “A riqueza se expressa de diferentes formas, mas uma delas é a disponibilidade de moeda circulante”, descreve o Sabrae/MG no documento “Cidade Empreendedora”
A moeda local, desta forma, tem dois objetivos: reter a riqueza no município — já que a moeda não é aceita em outras cidades, incentivando o consumo em Resplendor —; e aumentar o número de transações no próprio território — com o aumento de notas físicas que facilitam o troco em circulação no comércio local, uma das principais fontes de renda da cidade.
Ubérrima tem valor de verdade?
Nesses primeiros seis meses de circulação, foram quase 70 mil notas impressas, com valor de face que soma Ub$ 300 mil. Para que a nova moeda pública local passe segurança e credibilidade, a prefeitura depositou o equivalente em reais, ou seja, R$ 300 mil, no Fundo Monetário Municipal, mantendo o lastro na moeda oficial do Brasil.
Desta forma, o ubérrima tem, sim, valor de verdade — nos estabelecimentos da cidade de Resplendor em que a moeda local é aceita. Como o aceite não é obrigatório, os comércios que toparam fazer parte do projeto têm um aviso na entrada indicando aos moradores a nova forma de pagamento.
Até o momento, a prefeitura indica que quase 50 estabelecimentos comerciais aderiram à iniciativa.
Como o ubérrima vai entrar na economia?
Não basta criar uma nova moeda para fomentar a economia local. É preciso fazer com que as novas notas circulem, sendo de alguma maneira injetadas no cotidiano dos moradores. O prefeito de Resplendor, Diogo Scarabelli (PP), explicou ao Valor como pretende fazer isso.
A prefeitura deve começar a pagar os benefícios sociais municipais, como a cesta básica, por exemplo, em ubérrimas. Acima disso, o câmbio entre real e ubérrima (e vice-versa) será disponibilizado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico da prefeitura, sem taxas de serviço.
“Depois que a pessoa receber seu salário, ela pode fazer a transação e adquirir ubérrima para fazer suas transações comerciais no municípios, como é nosso objetivo”, diz o prefeito.
A intenção é que os comerciantes que fizerem parte do projeto ofereçam descontos, promoções e programas de fidelidade com cashbacks para incentivar a população a pagar em ubérrimas. Da parte da administração municipal, “serão estabelecidos programas que incluirão iniciativas sociais, premiações, projetos educacionais nas escolas, além da criação de de incentivos fiscais”, segundo a prefeitura.
Fonte/Imagem: Valor Finanças