Riscos da alavancagem na Bolsa de Valores

O episódio #54 com Octávio Magalhães é uma aula magna de MBA em sobrevivência no mercado de ações. O episódio me inspirou a falar de um assunto extremamente importante para todo investidor: alavancagem.

A alavancagem não só quebrou o Octávio quando ele tinha 18 anos, como também quebrou a Sadia antes dela ser adquirida pela Perdigão, empresa que combinada deu origem à Brasil Foods ou BRF.

A história da quebra da Sadia foi retratada de forma brilhante neste texto da revista Piauí.

A fusão das duas maiores empresas de alimentos do Brasil foi tão emblemática e, no papel, parecia tão boa, que a Guepardo chegou a ter 35% da sua carteira de ações investida somente na BRF.

Apesar da alta convicção, o investimento deu completamente errado e a alavancagem deteriorou ainda mais os fundamentos da companhia.

Como no mercado financeiro quando se perde dinheiro, ganha experiência, o maior erro da história da Guepardo também deu origem ao seu maior aprendizado: nunca mais concentrar a carteira em uma empresa alavancada.3À grosso modo, alavancagem é quando você pega um dinheiro que não é seu e usa ele para alguma coisa. Uma pessoa pode se alavancar de diversas formas: por exemplo, pegando dinheiro ‘emprestado’ da corretora para comprar ações.

No mundo corporativo, uma empresa pode tomar dívida com banco e utilizar o dinheiro para diversos fins: montar uma fábrica, comprar máquinas, contratar pessoas, desenvolver um software. Qualquer coisa. Ela pode até mesmo tomar dinheiro do banco para recomprar as próprias ações se quiser.

E por que é tão arriscado investir em uma empresa alavancada?

Porque ela pode quebrar. Simples assim. Se a empresa não gerar lucro o suficiente para quitar a dívida, ela pode quebrar.

Mas, fazendo uso das finanças corporativas, também existe um motivo matemático que explica a dificuldade de se investir em empresas alavancadas.

Eu explico.

Dívida e patrimônio líquido são as formas mais populares de financiamento.

Enquanto a dívida é uma obrigação contratual entre uma empresa e seus credores, na qual a empresa se compromete a fazer pagamentos pontuais de juros e devolver o principal ao final do período especificado; o patrimônio (ou equity) é um contrato entre a empresa e seus acionistas, que investem vislumbrando receber parte do crescimento do patrimônio lá na frente – que só acontece após a empresa pagar todas as outras partes interessadas, incluindo fornecedores (contas a pagar), governo (impostos) e funcionários (salários).

Entretanto, financiar somente com patrimônio é caro. Como o acionista é o último a receber o dinheiro, ele exige um retorno maior pelo risco que está correndo. Por outro lado, se financiar majoritariamente por dívida torna a empresa muito mais vulnerável.

Imagina uma empresa cujo valor de firma (valor do patrimônio + dívida líquida) é de R$ 1 milhão: R$ 800 mil de dívida e R$ 200 mil de patrimônio.

Neste exemplo hipotético, a empresa alavancou o seu patrimônio em 5 vezes (1000/200). Supondo que o valor de firma da companhia seja 10% menor, ou seja de R$ 900 mil, e que a dívida líquida permaneça em R$ 800, o patrimônio deveria valer R$ 100 mil ou 50% a menos do que valia antes.

Quando você erra 10% do valor de firma de uma empresa sem dívida no balanço, na prática você vai errar o valor do patrimônio nos mesmos 10%. Agora, se a empresa estiver 5 vezes alavancada, o erro será de 50% no valor do patrimônio.

Quanto mais alavancada for uma empresa, maior o risco de errar o patrimônio. É por isso que é tão arriscado investir em empresas alavancadas.

Fonte/Imagem: MoneyTimes/Internet