Sabe o Google? O buscador mais popular do planeta – 83% das pesquisas da internet são feitas nele – vai mudar completamente. E é provável que o mundo como o conhecemos hoje mude junto com ele. De novo.
Nesta terça-feira (14), a empresa apresentou ao mundo a AI Overview, ferramenta de inteligência artificial que terá a responsabilidade de compreender pesquisas e demandas dos usuários, mesmo as mais complexas, e responder em segundos, de maneira personalizada. Isso vai acontecer por meio do cruzamento da montanha de dados indexada pelo Google, seja no formato de links, textos, vídeos, vídeos, imagens ou mapas.
E tudo com o mesmo grau de atualização das pesquisas já feitas atualmente pelo Google – em tempo real.
Imagine que você escreva isso no campo de pesquisa do Google:
“Me dá as 10 melhores opções de academias de velocity: considerando a proximidade em relação a minha casa, os preços das mensalidades e as avaliações de usuários”
Voilà! Ao invés de um amontoado de links gerados automaticamente e rankeados a partir de palavras-chave, ou de um mapa com vários alfinetes digitais cravados, você recebe uma lista completa e organizada – numa ordem definida pela IA do Google.
A AI Overview será integrada ao buscador já a partir desta semana nos Estados Unidos e ficará disponível aos poucos para outros mercados ao longo dos próximos meses. Segundo o Google, chegará a um bilhão de usuários até o final de 2024.
Se tudo funcionar conforme prometido, os usuários do Google têm muito a ganhar. Muito menos tempo será investido nas pesquisas do dia a dia, os sumários criados por inteligência artificial e alimentados pela vastidão de dados do buscador têm o potencial de simplificar processos e oferecer respostas mais precisas.
Com a possibilidade de articular diferentes dados, o que antes demandava várias pesquisas e centenas de cliques poderá ser resolvido com uma só googlada. Não à tôa, o lançamento da ferramenta foi embalado pelo mote “Just ask” (“é só perguntar”).
O que ainda não está claro são as implicações para as indústrias que foram profundamente transformadas – e criadas – a partir da invenção do Google, 25 anos atrás. A lógica do Google e seu quase monopólio obrigaram jornalistas, blogueiros, escritores, produtores audiovisuais, publicitários e praticamente qualquer profissional que usa a internet para promover um produto ou serviço a jogar um jogo cujas regras foram definidas pelo Google.
Entender como funciona o SEO (Search Engine Optimization, ou ferramenta de otimização de pesquisa) passou de diferencial para algo obrigatório em grande parte do mercado de trabalho. A grana da publicidade migrou rapidamente da mídia tradicional para o Google, arrastando jornais, revistas, emissoras de TV e de rádio pelo caminho. Quem sobreviveu aos últimos 25 anos teve de aprender a ganhar dinheiro na “era do Google”, encolheu muito ou mudou o modelo de negócios. Ou as três coisas ao mesmo tempo.
Outras indústrias surgiram. Se a sua empresa não sabe produzir conteúdo encontrável na internet, tem sempre uma outra empresa que pode fazer isso para você por uma módica quantia. O marketing digital virou rei.
Tudo isso alimentado por bilhões e bilhões de links, anúncios e métricas atreladas à efetividade das respostas oferecidas pelo Google a cada pesquisa feita.
O que vai acontecer com essa estrutura toda uma vez que a AI Overview deve diminuir drasticamente as taxas de cliques, a rolagem das telas, as pesquisas feitas em múltiplas fontes? Isso significa que as propagandas serão menos vistas, menos clicadas?
E em relação ao próprio Google? O modelo de negócios do buscador é bem conhecido: fazer um leilão dos primeiros resultados das pesquisas. Aparece mais quem paga mais. Isso rendeu US$ 307 bilhões em receitas em 2023.
A AI Overview vai diminuir essa quantia? Ou o Google vai incorporar resultados patrocinados aos resumos personalizados feitos pela inteligência artificial?
Por enquanto, ninguém sabe.
A era do Gemini
A pesquisa do Google é só uma das ferramentas cujas funções e possibilidades serão atravessadas pelo Gemini, o grande modelo de linguagem (LLM, na sigla em inglês) da Alphabet.
Nesta segunda-feira, executivos se revezaram por duas horas no palco da Google I/O, a conferência da empresa para desenvolvedores, explicando como a inteligência artificial está sendo integrada às aplicações do Workplace (Docs, Sheets, Slides, etc), ao Gmail, ao Google Fotos, Calendário, Mapas, enfim, toda a família de ferramentas do Google.
A ideia é que o Gemini funcione como uma inteligência capaz de articular os dados presentes em todas essas plataformas e se torne um poderoso assistente virtual. Aliás, a coisa anteriormente conhecida Google Assistente agora é o Gemini.
Isso nos leva, claro, ao Android. O sistema operacional mais popular do mundo é um enorme ativo do Google, que conta com o apoio de fabricantes de hardware como Samsung, Motorola, e Xiaomi. Tudo leva a crer que o Gemini será o grande assistente de voz de todas essas marcas que dependem do Android para manter suas divisões de smartphones. Pobre Bixby.
Do outro lado do corner, claro. Está a Apple.
Aliança entre OpenAI e Apple?
Se já ficou claro que o Google vai usar toda sua “capacidade instalada” para popularizar o Gemini e fazer dele a inteligência artificial dominante, ainda há muitas dúvidas sobre qual será a estratégia da Apple para ganhar – ou manter – espaço em um mercado obcecado pela IA.
Até aqui, a companhia comandada por Tim Cook parece ter ficado para trás e isso criou muitas expectativas sobre os anúncios que serão feitos pela maçã na sua conferência global de desenvolvedores, a WWDC, marcada para 10 de junho.
Nos últimos dias, ganharam força rumores de que a Apple estaria em negociação com a OpenAI para incorporar o ChatGPT ao iOS e aos demais produtos da empresa. E, aos olhos de alguns, esses boatos foram reforçados com um pouco mais de credibilidade após o lançamento do GPT-4o, nova versão da LLM da OpenAI anunciado ao mundo um dia antes da conferência do Google.
Fonte/Imagem: InvestNews/Internet